O MVP, do inglês, Minimum Viable Product, ou Mínimo Produto Viável, é um conceito muito utilizado por startups e empresas de tecnologia para entregar a menor versão possível de um produto que traga o benefício que o produto se propõe a oferecer.
Esse conceito, foi apresentado pela primeira vez por Eric Ries, no seu livro a Startup Enxuta, e já foi utilizado e ainda é por muitas startups que começaram do zero e se transformaram em algumas das empresas mais inovadoras e valiosas do mundo.
Um erro bastante comum que acontece é as pessoas entenderem que o MVP é apenas uma versão simplificada, ou uma versão inacabada de um produto.
Mas evitar essa confusão, já há muito anos, tenho mostrado nas minhas mentorias para startups esse desenho do Henrik Kniberg que ilustra bem a diferença, veja:
Nesse caso, hipoteticamente, estamos tentando criar uma solução para o problema de mobilidade urbana, por exemplo.
A princípio imagine que acreditamos que um carro seja a solução ideal para resolver o problema de um cliente, mas não temos o orçamento necessário, o tempo, e nem temos certeza se realmente as pessoas querem uma nova solução para mobilidade urbana para começo de conversa.
É mais ou menos assim que um empreendedor se sente quando quer começar um negócio, ou uma empresa quando quer adicionar um produto ao seu portfolio.
Mas as changes são que estaremos tão empolgados com a ideia final de produto – o carro – que vamos tentar pular etapas e começar a construir o produto da forma errado, correndo riscos desnecessários, desperdiçando tempo e dinheiro e criando um produto que não agrada o cliente.
Não tem mais que ser assim!
Em vez de tentar chegar direto no produto que você acha que é o ideal que seria o carro, no nosso exemplo, devemos focar no valor que esse produto entregaria e então tentar pensar na solução mais simples possível que pudesse entregar esse mesmo valor.
A entrega dessa versão mais simples deve tornar a vida do seu cliente melhor do que seria sem o produto, nesse caso o skate, pode ser a solução mais simples que entrega o valor da mobilidade, isso é sair do ponto A para o B.
MVP e Agile
A cada entrega, ou iteração, o valor de negócio aumenta, e o produto melhora, e já pode ser utilizado com o benefício das melhorias que foram realizadas (do skate para o patinete, para a bicicleta, etc.).
Da mesma forma, encaramos as entregas das iterações ou sprints nos métodos ágeis de desenvolvimento de software como Scrum e XP, por exemplo. Na verdade, agile e Lean Startup estão fortemente relacionados.
Pouco adianta uma empresa de software lançar versões semanais, se a cada entrega dessas versões, o produto não agregar mais valor para seus clientes de alguma forma.
Infelizmente, já vi mais casos do que gostaria de confessar de empresas fazendo exatamente isso, pensando que estavam colocando métodos ágeis em prática. Ou seja, entregando primeiro uma roda, depois uma outra roda, depois o eixo…
Nesse caso, a cada entrega a vida do cliente não melhora em nada porque ele não consegue usar o produto ainda, não consegue ter o benefício prometido antes de chegar na versão final.
E como esse é um engano muito comum, acredito que vale muito a pena falar a respeito disso e continuar batendo nessa tecla.
Interessante que para quem olha de fora, a forma de trabalho, de quem faz da “forma certa” e da “forma errada” pode ser muito semelhante, porque em ambos os casos, se faz entregas frequentes em iterações, mas a essência é completamente diferente.
Reduzindo Riscos e Testando Hipótesis
Outro ponto importante é que você provavelmente estará errado em relação a muitas premissas que assumiu, e a medida que lançar a primeira versão do seu produto, como um MVP, e o começar a observar o comportamento e o feedback dos seus primeiros clientes e usuários, vai analisar os dados e descobrir muitas coisas que não fazia ideia antes.
Muitas vezes isso pode te levar a mudar a sua concepção, e provavelmente o produto vai caminhar para uma direção muito diferente, e o resultado final que você imaginava que produziria antes de ter lançado o MVP vai ser outro.
O método da Startup Enxuta, entende todas essas premissas ou hipóteses que você tem sobre o seu produto, devem ser testadas no método cientifico, utilizado dados para comprovar se fazem mesmo sentido ou não, e só depois de ter analisar os dados, você então segue por um caminho ou outro (usando testes a/b, por exemplo).
Trabalhar assim vai evitar que você passe anos trabalhando num produto, que depois de pronto, ninguém vai querer usar ou comprar.
Passar muito tempo trabalhando num produto antes de lançar nos dias de hoje é um erro que parece muito óbvio mas que muitas pessoas já cometeram, eu inclusive, e o próprio Eric Ries, autor do livro.
Venda antes, crie depois
O mesmo conceito é utilizado hoje em dia para testar ideias de negócios.
Se você, por exemplo, vai lançar um curso, e está em dúvida se lança um curso de contabilidade ou de finanças, pode simplesmente criar dois tipos de anúncios no Google ou Facebook, e deixar as pessoas se inscrevem nos cursos mesmo sem eles estarem prontos de verdade.
O anúncio que tiver mais inscrições se prova como um curso que tem mercado para ser explorado, pode ser que só um tenha demanda e outro não, ou ser que ambos vão ter muita demanda, seja lá, como você depois de testar você vai ter certeza que vale a pena investir na ideia, porque tem pessoas interessadas e dispostas a pagar pelo curso.
Claro que depois, você pode explicar para as pessoas que se inscreveram que o curso ainda está sendo produzido, que eles participaram de um experimento e que já estão na lista de espera e que serão informados quando o curso estiver disponível.
Dessa forma, além de ter validado a ideia, você ainda já começa seu negócio com uma lista de clientes potenciais ativamente interessados em comprar o seu produto.
Esse é outro benefício de fazer um MVP, você lança o seu produto muito rápido com o menor investimento necessário para poder testar a demanda e ter mais indícios de que realmente vale a pena seguir investindo do desenvolvimento deste produto.
O MVP e o Feedback
Recentemente, lendo o livro, Nada Easy, do empreendedor brasileiro Tallis Gomes, fundador da Easy Taxi e da Singu, achei interessante ver que ele utilizou o mesmo desenho para apresentar o conceito de MVP e também aplicou essas ideias em seus negócios.
Ele dá bastante ênfase para a importância do feedback dos usuários para direcionar a evolução do produto.
Tallis explica no seu livro que os primeiros clientes que usarem o skate, podem reclamar que é difícil manter o equilíbrio, então você adiciona o guidão e o transforma num patinete, posteriormente, o feedback pode ser a falta de conforto, e então você evolui para a bicicleta e assim vai recebendo esses feedbacks e melhorando com iterações.
O empreendedor conta também que quando começou a Easy Taxi, como ele não sabia programar, a primeira versão do aplicativo, foi um formulário que o usuário preenchia onde estava, seu telefone e e-mail e clicava num botão para um pedir taxi.
Só que o mais interessante é que esse botão “pedir taxi” apenas mandava um e-mail para ele que fazia todo o processo manual para pedir o taxi.
Era tudo manual!
Mas note isso conseguir dar sinais para ele que o mercado e a demanda existiam e que valia a pena continuar investindo na sua ideia.
E de fato, entregava o valor que o cliente queria, nesse caso, pedir um taxi!
Mas e o seu MVP?
Todos os dias empreendedores e empresas cometem o erro de investir demais numa ideia ou produto, antes de lançar uma versão viável que possa ser usada para entender se há demanda, e receber feedbacks dos usuários para realmente criar algo de valor.
Se você entendeu bem o que é MVP e já sabe como colocar isso em prática, aumentou drasticamente suas chances de sucesso, ou pelo menos ganhou muito tempo e evitou desperdiçar recursos criando algo que não vai gerar valor.
Recomendo que você leia o Livro Startup Enxuta, e o Livro Nada Easy para aprender mais.